sábado, 26 de março de 2011

Crimes sexuais: uma dicotomia de hemisférios


Diariamente acompanho através da mídia, casos de crimes sexuais no país e no exterior, e é nítido a disparidade no tratamento dado aqui e lá fora. No Brasil, esses crimes acontecem, mas a falta de rigor pelas autoridades que não punem severamente os infratores, leva os casos a se repetirem.

No ano passado, em Luziânia, Estado de Goiás, jovens aos poucos foram desaparecendo. A polícia investigava a partir da hipótese de sequestro, quando descobriu que o sumiço deles estava ligado a um pedreiro homossexual pedófilo, Ademar Jesus da Silva, que os molestou e os matou. Neste caso, a justiça foi feita pelo rigor dos carcerários, que abusaram do pedófilo, o que levou o pedreiro a se matar. De forma trágica essa história terminou, mas não foi suficiente para acalmar as famílias dos jovens assassinados.

Este caso chocou o Brasil, como qualquer outro do tipo. Mas o que é cansativo é que ficamos muito tensos ao ver a repetição destes e saber que, se o infrator não acabar linchado pela população ou dentro da cadeia mesmo, infelizmente, pelas autoridades a justiça não será plena, pois a lei é frágil na hora de aplicar as punições.

E o pior ainda é quando vemos órgãos que deveriam atuar na exposição de casos como esses para garantir que haja punições severas, como as empresas de comunicação, na verdade, estão se omitindo do seu dever, pois querendo ou não, a força das mídias é indiscutível, e quando o trabalho é feito, as autoridades são pressionadas pelo seu poder.

Sobre isso, em 2010, o filho do diretor da TV RBS de Santa Catarina se envolveu em um caso de estupro, junto com mais alguns amigos. A vitima, era uma menina de apenas 13 anos, enquanto os estupradores tinham em média 14. O caso foi a público devido à confissão do filho do diretor da emissora, sendo esta, que por sinal não emitiu nenhuma nota à imprensa comentando o caso, ou seja, ficou claro a proteção feita.  

Em entrevista a TV Record, o menor estuprador esnobou as autoridades, e quando questionado sobre a possibilidade de ser preso, ele respondeu: “tu tá zoando”, mostrando assim, que conhece o grau de impunidade destes casos.

E quando o assunto foge do cotidiano e afeta a moral das religiões? Tem sido corriqueiro neste país observar que representantes das correntes religiosas mais populares no país e no mundo, padres e pastores, estão se desviando dos padrões morais de suas doutrinas, ao se envolverem em casos de pedofilia. Em 2010, O Jornal O Imparcial noticiou o flagrante do padre Felix Barbosa Carreiro, de 43 anos, com quatro jovens, dois de 18 anos e outros dois tinham 13 e 15 anos. E casos como esse temos “no balde”.

Certa vez, um professor que eu tive de História, do cursinho pré-vestibular, que no passado foi padre, revelou em sala de aula que um padre de sua paróquia se envolveu com um menor de idade e foi expurgado da diocese por isso. Mas, alguns anos depois, quando meu professor foi rezar uma missa em uma cidade do interior do Pará, ele reencontrou este padre pedófilo trabalhando na paróquia que ele ia rezar a missa. O pedófilo o recebeu alegremente e agia como se nada tivesse acontecido. Ou seja, não sei se este pedófilo foi preso, mas, se foi, ficou pouco tempo, e também, a medida da igreja não foi nada severa, já que o infrator conseguiu trabalho em outra igreja facilmente.

Isso é o maior exemplo de que o Brasil não sabe punir seus infratores, não sabe “reformar” o ser humano que ultrapassa o limiar da lei, e devolvê-lo dignamente à sociedade, tudo por culpa de um dominó político, que começa com a corrupção dos meios de comunicação, que são negligentes e vendem sua opinião, depois pela fragilidade do poder judiciário e legislativo que não apresentam medidas paliativas justas perante as atrocidades vivenciadas diariamente, e tudo isso torna o setor carcerário brasileiro insuficiente na proposta de reintegrar o infrator à sociedade.

Casos de pedofilia e crimes sexuais nos países da Europa são tratados sob um rigor invejável, pois, quando estes fatos ocorrem, os europeus entendem que a moral de uma sociedade inteira foi manchada por um individuo que fazia parte dela, mas que, por tal atitude, não tem condições de conviver entre os outros.  

A exemplo desse tratamento diferenciado na Europa, quando uns membros da igreja católica na Irlanda se envolveram em escândalos de pedofilia, o Papa escreveu uma longa carta se desculpando pelo ocorrido e anunciou uma investigação formal severa sobre o caso. Ou seja, é a instituição agindo além das autoridades tradicionais.

Outra diferenciação está no que tange os crimes de invasão de privacidade e atentado ao pudor, que, no Brasil, não são punidos de forma tão arbitrária como é na Europa. No portal de notícias do G1 tem inúmeras matérias falando sobre estes casos no continente europeu. “Professor é suspenso por fotografar por baixo de saia de mulheres”, “Jovem é preso nos EUA acusado de filmar bumbum de mulher”, “Homem usa câmera presa ao sapato para filmar por baixo da saia de mulheres”, “Funcionária de escola é suspensa por trabalhar como atriz pornô”, “Monge budista é preso por filmar mulheres nuas durante cerimônia”, “Francês é multado em R$ 1.075 após filmar casal vizinho fazendo sexo”, entre outros casos mais.

No Brasil, o programa CQC, da Band, fez uma “pegadinha” colocando a frente do computador uma menina maior de idade, mas que na ocasião, ela teria 16 anos. A jovem entrou em salas de bate-papo, como os da UOL, e em inúmeras situações, através de conversas com webcam, foi molestada, assediada, por caras bem mais velhos, ou seja, se configurou como pedofilia. E como o nosso sistema é frágil nas punições, nada foi feito, nem dessa vez, e raramente  nem outras vezes.

Foi liberado pelo Wikileaks, um sistema de mensagens de pedofilia, que foi mapeado pelo FBI. O documento mostra que através de uma série de símbolos, cada um com um significado, os agentes podem rastrear ações de pedófilos e, assim, puni-los no rigor da lei.

Isso mostra o quão a frente estão as autoridades europeias no tratamento e combate destes casos, um exemplo para o Brasil, assim como em muita coisa, infelizmente. 

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