sexta-feira, 25 de março de 2011

Noites conturbadas Imperatriz


Nesta sexta, 18, fui acometido por uma febre alta, seguida de dores no corpo. Cheguei ao Hospital Santa Mônica e liguei o “faro jornalístico”. Já comecei a prestar atenção desde a entrada da recepção. Observei a limpeza e o espaço para os enfermos, até aí tudo em ordem. No entanto, o espírito mercenário logo se manifestou. Estava muito fraco, e como já disse, repleto de sintomas, queria muito ter me sentado e esperado o cadastro na recepção que era feito pela minha Avó, mas permaneci em pé ao lado do balcão, para continuar a avaliar o atendimento. Demorei em média 10 minutos para ser cadastrado (e olha que eu já era cliente) até ser encaminhado para a sala de emergência, onde já estava deitada no leito uma senhora com os mesmos sintomas que os meus. Ainda na recepção, fui informado que não havia leitos, caso fosse necessário uma internação.

Enquanto aguardava atendimento, a até então enfermeira pra mim, que só depois de um diálogo aberto e amistoso soube pela própria que era, na verdade, uma técnica em enfermagem graduada pelo EQTEI. Esta cumpriu todos os procedimentos básicos de assepsia, mas pecou ao não usar luvas e ao manter suas unhas um tanto compridas, que podem acumular germes e bactérias, pois ela é uma profissional que está em contato com esses seres microscópicos a todo tempo, podendo contaminar os enfermos.

Conversando com o médico, perguntei, em mais uma conversa aberta, por que os leitos estavam lotados. O doutor me disse que nesta época os casos de dengue aumentam, apesar de toda a política de combate à doença que o Ministério da Saúde promove anualmente, e a maioria dos leitos estão ocupados por isso. E tem mais, minha companheira de leito revelou que antes de vir pro Santa Mônica, esteve no São Rafael e constatou que lá também estava com os quartos ocupados.

Ou seja, Imperatriz enfrenta um grave aumento de população e os nossos Hospitais particulares, em épocas de epidemias não estão comportando a demanda. Assim, é preciso que haja ainda mais investimentos na ampliação destes ou na construção de novos centros de saúde. Se os hospitais particulares estão lotados, imagino os postos de saúde ou nos públicos como estão.

Minha Avó deu uma saída enquanto eu estava sendo medicado e voltou em poucos minutos acompanhada de uma amiga que trabalha como faxineira do hospital. No papo entre as duas, a funcionária revelava que estava em uma jornada de trabalho desde a tarde, só terminaria o turno pela manhã. Depois disso, reparei que a enfermeira aparentava cansaço e perguntei, usando um sorriso amigável para disfarçar o caráter de repórter se a mesma estava cansada. Ela me respondeu que sim, pois estava desde a tarde de plantão, e assim como a faxineira, só seria liberada pela manhã. Além disso, no dia seguinte a tarde ela viria trabalhar “quebrando um galho” para uma companheira de trabalho. 

Tal atitude imposta pelo hospital, de trabalho por três turnos, é um tanto pesado, pois coloca os mesmos em desgaste físico e mental, que a longo prazo limitam a capacidade destes de exercerem sua profissão, ainda mais neste caso quando a funcionária agravou sua situação física, por mais que estivesse acostumada, mas o cansaço aparente é a prova que ela tem seus limites.

Ao ser liberado para casa, desci da cama e ao calçar minha sandália, acabei pisando em um pequeno caco de vidro, me causando um corte leve. Eu nem me importei na hora, mas a Técnica em Enfermagem tratou de passar algodão molhado no álcool e só depois fiquei lúcido que poderia estar exposto a uma infecção hospitalar. Preocupada, ficou justificando o caco por uma dificuldade de limpar tudo já que são tão pequenos. Mas enfim, pequenos cacos, configurando uma pequena falha.

Esse fato concluiu minha passagem pelo hospital, de caráter tanto como enfermo alem de jornalístico também.

Na volta para casa, observei as ruas desertas das noites de Imperatriz. Contudo, um elemento do cenário era incompatível com a paisagem. Uma música eletrônica a alto nível sonoro. Mais na frente isso ficou explicado. Em um posto de gasolina não muito distante do hospital estava acontecendo uma festa de carros automotivos, que, por casos de violência que ocorreram no Sul foram proibidas. Além disso, a lei do Silêncio, dever da Superintendência do Meio Ambiente fiscalizar deveria ter autuado no local e também, o fato de a música incomodar aos enfermos internados no hospital indica que a festa também está em estado irregular por isso.

Desta forma, concluí minha ronda pelas noites de Imperatriz.

NOTA DO BLOGUEIRO: O texto acima assemelha-se muito com uma crônica. Gostaria de informar-lhes que todos os fatos a seguir compõem um retrato fiel da realidade que vivenciei neste dia. Junto com a narração deste episódio acrescentei elementos jornalísticos bem sutis. Ou seja, é tanto um texto literário quanto jornalístico.        

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