No século XX, um pesquisador da Escola de Frankfurt, Walter Benjamin, escreveu um ensaio sobre a obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica, estudo esse que entitula o mesmo. Benjamin, na minha percepção, foi muito preciso, pois o momento para as artes, em geral, era de um total encanto, de modo que os apreciadores dela queriam ter em casa um exemplar ou, para os mais ricos, a original da mesma.
Benjamin divaga no seu ensaio sobre a perda da aura artística. O valor aurático é, sem dúvida, o que um artefato artístico faz com quem as observa, e é perfeitamente compreensível em obras artesanais ou manufaturadas, pois, por exemplo, a tela 'Monaliza', ninguém pode "re-pintá-la" (perdão pelo neologismo) a ponto de passar a aura, o efeito, existente na obra original. É uma coisa do 'feeling', que os apreciadores por arte sabem do que estou falando, que seria, imaginar que o pintor esteve ali de frente para aquela tela e tentar entender o que veio a mente dele no momento que ele idealizou a tela.
Vamos dar destaque a palavra 'idealizou'. Se formos seguir por um viés platônico, o ato de idealizar a tela ainda assim é inatingível, está no mundo das ideias estabecido por Platão como uma das vias do conhecimento, ou seja, a aura maior na arte é aquela que está na cabeça do artista e ele tenta passá-la para a tela. Por isso, alguém se propõe a reproduzir a pintura fará isso, mas nunca conseguirá colocar na arte reproduzida a aura existente na original.
Contudo, falamos de arte manual e manufaturada e o que nos vêm a mente com essa classificação é sempre as esculturas e pinturas. Porém, esquecemos que no passado, a indústria audiofonica não tinha os recursos que temos já desde a primeira metade do século XX, de gravar as músicas, como nos primórdios, em fitacassete, cd's bolacha preta,... e atualmente em minichips iguais como os que compõe as tecnologias MP3. Se não gravávamos as musicas no passado, a indústria audiofonica nem existia então, e a música vivia de apresentações ao vivo, sem, é claro, caixas de som, ou seja, algo bem acústico mesmo.
Pois bem, pegando o exemplo da música antes da era da indústria audiofonica, digamos que alguém tentasse reproduzir o som de algum músico na época, de certa forma, a regra é a mesma, ou seja, a apresentação original é que tem aura, portanto, tem valor artístico ou aurático, pois, o artista que compôs a canção tem um ligação sentimental com ela, já que, ele teve uma inspiração, certamente, de algum fato que lhe ocorreu, idealizou, portanto a melodia, e a compôs dentro das pautas musicais. Ou seja, o músico que reproduzir a canção só estará copiando o trabalho pronto, mas ele nunca vai captar a origem, a inspiração, o 'feeling' do processo.
Se pegarmos o exemplo da indústria musical atualmente, e perceber que diversas canções foram regravadas uma porção de vezes, e olhar por esse viés "benjaminista", a reação é de que essas músicas, tão reproduzidas já não tem valor artístico, que são, na verdade, uma tentativa, sempre em vão de alcançar a aura, que está no mundo das idéias. É por isso que KLB não tem valor musical algum (é uma porcaria que não merece nem ser comparada). Que, também, Maria Gadú, apesar da técnica musical fora de série que tem, ao regravar Lanterna do Afogados, não alcançou o valor aurático que a música alcança com o Paralamas do Sucesso.
E, pra mim, o maior exemplo de todos, é as pessoas darem tanto crédito à Cássia Eller, sendo que a maioria de suas canções são de Nando Reis, assim como ao Skank, que também regravou muitas músicas dele. Com todo respeito à carreira desses dois martes da música nacional, que admiro até, contudo pela interpretação das músicas, e o que lhes falta, principalmente, à Cássia Eller, para serem músicos de verdade, é compor, o que infelizmente, no caso dela, é impossível. E o Skank tem muitas canções de autoria própria, no caso o Samuel Rosa, pois ele é o compositor da banda, mas as que mais fizeram sucesso não são dele.
Enfim, tomei como exemplo os dois, talvez eu nem seja compreendido, e até ridicularizado por isso, mas a crítica está feita, e, como vivemos em um país onde a censura há tempos caiu, então, estou aberto à críticas, desde que o debate seja positivo.
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ResponderExcluirPra mim Benjamim foi contra reprodução técnica afim de excluir, de uma certa forma, a maior parte das pessoas de terem acesso às obras de arte. Não digo que ele esteja totalmente errado, pois acredito na originalidade das obras, e certamente elas tem um valor grandioso. Mas a reproduçao viabiliza e democratiza o acesso. E isso é importante. Fazer com que todos possam usufruir de ouvir uma boa música, ou observar um belo quadro é a atitude a ser tomada ! Valeu, Huguete !
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